Opinião

A hora e a vez da energia verde

Crescimento da energia limpa chama a atenção das petroleiras

Por Redação

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A geração de eletricidade a partir de energia eólica vem batendo sucessivos recordes no Subsistema Nordeste do sistema interligado brasileiro. Em 10 de setembro deste ano, o ONS registrou uma média diária de geração eólica de 6.194 MW, correspondente a 71% da demanda média por dia. Já a geração instantânea alcançou 6.852  MW, representando 84% da demanda instantânea da região. Isso mostra que a fonte eólica já não é mais apenas um complemento e, na Região Nordeste, é capaz de suportar a maior parte do consumo. Os custos de produção de eletricidade a partir das fontes de energia solar e eólica tiveram uma queda vertiginosa nos últimos cinco anos, na faixa de 50% a 80%. Os projetos tornam-se cada vez mais econômicos e sinalizam um crescimento exponencial do aproveitamento dessas fontes energéticas, no Brasil e no mundo.

Esse tipo de notícia nos remete às transformações que vêm ocorrendo no setor de energia em todo o planeta, a taxas cada vez mais aceleradas. Essas mutações vão impactar a maioria dos negócios do setor e nenhuma área de atividade estará a salvo das mudanças que virão. Dois vetores principais orientarão o futuro, quais sejam, (i) a esperança de um mundo melhor, mais limpo e sustentável, no que concerne à produção e ao uso de energia, e (ii) o desenvolvimento de tecnologias específicas, capazes de viabilizar economias de baixo carbono nos países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Embora tenham contrariado as expectativas do resto do mundo, as restrições do governo norte-americano ao Acordo de Paris não deverão impedir o cumprimento dos compromissos assumidos, em nível planetário, para apoio à ação mundial de proteção climática. Muitas empresas americanas mantiveram seus projetos alinhados com a redução de emissões de carbono e tudo indica que as restrições do governo Trump começarão a ser retiradas à medida que outros países, em especial a China, se disponham a assumir a liderança do processo, em escala global. O Acordo de Paris tem signatários suficientes para torná-lo juridicamente vinculativo e não será sustentável para os EUA, como segundo maior poluidor do mundo, livrar-se de quaisquer compromissos ambientais, enquanto o resto do mundo carrega o seu peso.

Na China, a conversa é outra e ninguém mais duvida do compromisso do governo chinês com a energia limpa. O país já é reconhecido como a superpotência global em energias renováveis e estabeleceu o seu domínio por meio de enormes investimentos. Após impressionantes US$ 190 bilhões investidos em 2015/16, a China está propondo gastar mais US$ 360 bilhões em energia verde até 2020. Além de ambiciosos projetos domésticos, entre os quais se destaca a maior fazenda solar do mundo, na província de Qinghai, com 870 MW, o governo chinês vem promovendo negócios relevantes em outros países, em especial Austrália, Chile e Alemanha. A China possui cinco das seis maiores empresas mundiais de fabricação de módulos solares, o maior fabricante de turbinas eólicas do mundo e o maior fabricante de íons de lítio, utilizados na fabricação de baterias de grande capacidade.

Os avanços tecnológicos tornaram a energia limpa mais viável e os investimentos programados para o setor deverão acrescentar, na China, 9,5 milhões de empregos até 2020. Para se ter uma ideia, a mineração de carvão, uma das atividades que o presidente Trump propõe proteger, emprega hoje, nos EUA, 53 mil trabalhadores. Em todo o mundo, a disponibilidade de empregos no setor de energia limpa é cinco vezes maior do que no setor de combustíveis fósseis. Além disso, os salários pagos nas atividades relacionadas com a energia verde também são competitivos e a remuneração média cresceu 8% em 2016.

Parece, portanto, que a energia limpa continuará a ganhar impulso em todo o mundo, independentemente de os EUA participarem ou não do acordo de defesa climática. Os americanos já ficaram para trás na corrida com a China por vantagens no novo mercado em expansão e terão de reagir rapidamente, se quiserem garantir, pelo menos, uma fatia desse bolo.

Eugenio Miguel Mancini Scheleder é engenheiro aposentado da Petrobras. Também ocupou cargos de direção nos ministérios de Minas e Energia e do Planejamento, de 1991 a 2005. Atualmente, exerce a função de Mediador Extrajudicial, capacitado pela Câmara de Conciliação, Mediação e Arbitragem – CCMA/RJ

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